MENINO SENTADO NA CANOA
O menino ficava sentado na canoa
Sob o sol quente do verão
O rio passava entre pedras
As lavadeiras lavavam roupa cantando
Contando histórias
Metendo as mãos na panela do dicumê
No céu de um azul de doer os olhos
Um bando de ariris fazia festa
Alzira de Nato dizia que era a chuva que estava perto
Lôi de Primitivo retrucava que era algazarra daqueles pássaros
O menino na canoa sorria com os pés mergulhados na àgua
Sonhando com a chuva
EIGHT DAYS WEEK
A vida
Era a sala de projeções
Do Cine do Povo
Salão de carnavais
E filmes americanos
Nada sabia da vida
Do mundo
Sangrando
Em vietnãs revoltas revoluções
A vida era um quintal
Uma bananeira
Um cinema com alto-falantes
Emitindo
A última dos Beatles
PROCISSÂO DO ENCONTRO
Um Cristo todo alquebrado
Irrompia a praça da igreja matriz
Do outro lado da praça o andor
Com Nossa Senhora vinha em direção ao filho
Quão piedosos os olhos daquela mulher
O encontro de mãe e filho comovia-me
Velas acesas iluminavam a sexta-feira da paixão
Os homens rezavam em voz alta
Meu coração de menino sentia uma enorme tristeza
FESTA DE SÃO JOÃO
No tempo que era menino
A noite de São João era a noite em que se dormia mais tarde
Ficávamos assando batata doce na beira da fogueira
olhando um solitário balão cruzar o céu de junho
A noite de São João
Era a noite mais fria do ano
A quadrilha do Formigueiro
Enchia o ar da cidade com seu anarriê
As pessoas sentadas na soleira da porta comiam biscoito de goma
Bebiam licor de jenipapo
Esboçavam uma intensa e provisória felicidade
Os mais velhos dançavam no forró de Dona Anida
No forró pé-de-serra do Santo Lenho
Nas quadrilhas cada uma mais colorida que a outra
Menino como eu
Soltava traque chuvinha biriba busca-pé
E dormia na beira da fogueira de São João
O FIO DA MEMÓRIA
O espelho d`àgua da memória
É um fio
De lembrança
Daquelas canoas no meio do mundo
Daquelas ruas batidas de sol
Daqueles homens remando a esperança
O fio da memória
Permanece guardado
Na cacimba do tempo
Como permanecem guardados
O anelim da saudade
A cantiga de roda
O vento que soprava na cumeeira
O espelho d`àgua da memória
É um rio em delírio
Em desvario de àguas e peixes
terça-feira, 24 de março de 2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
GARIMPO
Meu avô garimpava no rio
No embornal
Uma meia de pinga
Uma marmita de farofa
Palha para o fumo de rolo
Meu avô bateiava no rio
Dia a dia
Sol a sol
À noite ele manejava a máquina de projeção do cinema
Fred Astaire dançava na tela
Gina Lolobrígida tinha olhos estranhos e penetrantes
E Casinha Pequenina arrancou lágrimas de muita gente
Depois o cinema mudou de endereço
Vieram os filmes de kung fu
Meu avô morreu de complicações hepáticas
A televisão chegou e acabou com o cinema
O rio secou
E nem se usa mais garimpar com bateia
No embornal
Uma meia de pinga
Uma marmita de farofa
Palha para o fumo de rolo
Meu avô bateiava no rio
Dia a dia
Sol a sol
À noite ele manejava a máquina de projeção do cinema
Fred Astaire dançava na tela
Gina Lolobrígida tinha olhos estranhos e penetrantes
E Casinha Pequenina arrancou lágrimas de muita gente
Depois o cinema mudou de endereço
Vieram os filmes de kung fu
Meu avô morreu de complicações hepáticas
A televisão chegou e acabou com o cinema
O rio secou
E nem se usa mais garimpar com bateia
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
HISTÓRIA DE CANOAS E PEIXES
Como quem escreve na areia
Rabisco palavras nas àguas do rio
Tudo ali era sacro
Na paisagem de canoas e peixes
De noite deitava-me em cama de varas
Em travesseiros de paina
O escuro do mundo vinha
De fantasmas e mulas sem cabeças
Vinha nas histórias contadas
Pelas avós na hora de dormir
Memória que assalta
E que por um instante ilumina o tempo distante
A infância distante e nunca esquecida
Como as gotas das primeiras chuvas de verão
Rabisco palavras nas àguas do rio
Tudo ali era sacro
Na paisagem de canoas e peixes
De noite deitava-me em cama de varas
Em travesseiros de paina
O escuro do mundo vinha
De fantasmas e mulas sem cabeças
Vinha nas histórias contadas
Pelas avós na hora de dormir
Memória que assalta
E que por um instante ilumina o tempo distante
A infância distante e nunca esquecida
Como as gotas das primeiras chuvas de verão
PAISAGEM PINTADA DE VERDE
Feliz é o sertão
Quando a nuvem chora
Os pés de mandacaru
Arvoram de verde
Arvoram-se
Os pés de palma
Os pés de juá
As plantinhas do chão
Os bichinhos do mato
Também arvoram-se
Os caracóis
As mariposas
As cigarras
Os pirilampos
As jias e os jirinos
A paisagem agora é lume
Folhas de pitombeiras maduras
Caindo
Na terra molhada de sol
Quando a nuvem chora
Os pés de mandacaru
Arvoram de verde
Arvoram-se
Os pés de palma
Os pés de juá
As plantinhas do chão
Os bichinhos do mato
Também arvoram-se
Os caracóis
As mariposas
As cigarras
Os pirilampos
As jias e os jirinos
A paisagem agora é lume
Folhas de pitombeiras maduras
Caindo
Na terra molhada de sol
A CIDADE E AS CANOAS
Minha cidade mistura-se às canoas
Ao vento que varre a orla do rio
Minha cidade é lama e barro das enchentes
É pedra preciosa no oco do chão
Minha cidade é areia branca de praia sem fim
É àgua ribeira sino de igreja rua de terra batida
Minha cidade é o sobrado colonial
Sob o sol das tardes de verão
Minha cidade é passado
Minha cidade é saudade
Minha cidade é quimera
Fotografia em sépia pendurada na parede
Ao vento que varre a orla do rio
Minha cidade é lama e barro das enchentes
É pedra preciosa no oco do chão
Minha cidade é areia branca de praia sem fim
É àgua ribeira sino de igreja rua de terra batida
Minha cidade é o sobrado colonial
Sob o sol das tardes de verão
Minha cidade é passado
Minha cidade é saudade
Minha cidade é quimera
Fotografia em sépia pendurada na parede
AS MAIS SIMPLES PALAVRAS
Minha poesia é simples
E cheia de palavras simples como
Vale peixe rio canoa
Pedra seixo barro areia
Terra planta àgua praia
Beira beirada barranco barranca
Remanso rebôjo ribeira ribanceira
Vida viola vereda varanda
Jenipapo graviola graveto gravatá
Presépio perau pitanga procissão
Chuva quintal vento argila
Remo escaler madrugada solidão
E cheia de palavras simples como
Vale peixe rio canoa
Pedra seixo barro areia
Terra planta àgua praia
Beira beirada barranco barranca
Remanso rebôjo ribeira ribanceira
Vida viola vereda varanda
Jenipapo graviola graveto gravatá
Presépio perau pitanga procissão
Chuva quintal vento argila
Remo escaler madrugada solidão
domingo, 9 de março de 2008
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